26.6.06

Fênix

Abro aos poucos minhas pálpebras insones
Acordadas por um sonho afogueado
– É o mesmo pesadelo que consome
O antigo coração amargurado?

Atravesso então um fino véu de fogo
Que em meu peito uma dúvida incita:
Será morte? Será vida? Um malogro?
Ou o ardor da alegria inaudita?

E as asas que vislumbro nessas chamas
Num instante são surpresa, são descanso;
Na carícia que em meu torso se derrama
Traz o pássaro da dor o seu remanso.

E ao ver-te, tão terrível quanto belo,
Digo: Fênix, se concedes teu abraço,
Faz de um toque incandescente meu castelo
E alegre a cada morte eu renasço.

21.6.06

Ói nóis aqui traveiz

Sim, as horas tornaram-se dias, os dias tornaram-se semanas, o outono deu lugar ao inverno – e deixei quase abandonado este meu “cantinho”, como já foi chamado uma vez (alô, Angela!).

Ao longo do último mês, as férias acabaram, os resfriados não, tive trabalhos para revisar... sem contar o pequeno milagre que passou a habitar nossa casa, e para quem toda atenção é pouca. Tudo isso foi me privando do delicioso ruído da inspiração fluindo dos dedos para o teclado.

Cenas do cotidiano, Oscar Wilde, Ronaldo Nazário, Dan Brown, Frida Kahlo e outros se debatendo contra as paredes de minha imaginação, esperando que alguma boa alma abrisse uma janela. Mas que salada. Não precisei de um ano escrevendo em um blog para perceber que minhas idéias são seres aeróbicos; se fechados muito tempo, podem morrer sufocados. A memória é o oxigênio do pensamento.

E a mais grata surpresa dessas semanas de ausência forçada foram os apelos, aqui e ali, para que novas palavras brotassem. Um deles veio de um amigo de longa data, o grande Xôn. Respondo que, de fato, nunca meu cantinho se propôs a ser um diário, mas, apesar de ser lobo de família, não preciso esperar as luas cheias para me manifestar. E ainda descobri, em minha prima emprestada, uma leitora diária do meu blog.

Honras como essas são uma chuva a regar em hora providencial o jardim. Encontrei, no escuro, a tranca que fechava o postigo e pus a respirar as fontes da inspiração. Eu nem sabia, mas meu reino também tem seus súditos. Que se faça sua vontade.