20.11.07

Versos antigos

Sintonia
(escrita em 1987)

Sou o lugar onde estou
E até isso me querem tirar:
Ligo energia,
Entro em sintonia;
Desligo e saio do ar.
O homem nunca esteve
Nesta terra indomável
Domada por tele-apatia
Que um dia não mais seria;
Seria controlável.

* * *


Voa
(escrita em 1988)

Voa:
Vou à toa
Rever ao relento
A quem se quer
E quem sequer
Tem o tempo que sobra,
Sopra só pra ver o vento
Que voa?

* * *

Um pouco da alegria
(escrita em 1988)

É sereno que penso num pouso à luz
E é paciente que espero da sina o fim.
E é de novo que vejo só o mar, só o mar...
Por que é de novo que perco?
Por que o dia acabou
Se é ainda alegre que busco

Um pouco da alegria?

2.11.07

O anjo e o sonho


Aos olhos pregados no escuro
A cor deste sonho destoa:
Meus passos pedindo futuro
A um anjo calado que voa.

Silente ele escapa ao afago
Da mão que eu havia estendido
Deixando em seu rastro um lago
Espelho de amores cuspidos.

Enquanto à tona eu estive
O anjo me fez poderoso
Jurei-lhe: “Por ti é que vivem
Meu dia e também meu repouso”.

O anjo calou, todavia,
Por raiva, orgulho ou medo
E o sonho então submergia
Ao peso de inútil segredo.

E assim em seu vôo prossegue
O anjo da alma imprecisa
Os sonhos que hoje ele ergue
Em fuga amanhã ele pisa.