9.11.08

Obama e o mundo pós-Bush

Change – We can believe in. Esse o slogan que Barack Obama usou em sua campanha, e que estava em cada púlpito do qual ele discursava. Será o primeiro presidente negro dos Estados Unidos capaz de efetuar essa mudança, que o povo norte-americano (o próprio Obama dizia) e o mundo todo (nós bem sabemos) necessitam?

A idéia de um negro ocupando o Salão Oval da Casa Branca, até a campanha presidencial terminada dia 4 nos Estados Unidos, ainda muito vaga, pertencia ao imaginário da televisão e do cinema. Desde um Sammy Davis Jr. criança em 1933, escassa meia dúzia de atores interpretou o papel, sendo os mais conhecidos os presidentes vividos por Morgan Freeman em “Impacto profundo” e Dennys Haysbert na série “24 horas”.

E então o precedente, improvável para muitos, foi aberto, o que foi comemorado em todo o mundo. No Quênia, país onde nasceu o pai do presidente eleito, a nação parecia festejar o fim de uma guerra ou a queda de um ditador. Tanta alegria pode parecer exagerada: no primeiro discurso após a eleição – e em suas primeiras atividades no gabinete de transição – Obama prometeu medidas imediatas contra a crise econômica mundial, mas sem deixar de ser um presidente capitalista, da democracia, da liberdade e da oportunidade.

A pá de cal deitada sobre a campanha do republicano John McCain foi justamente essa crise econômica, contra a qual um George W. Bush atrapalhado, negligente com as populações pobres dos Estados Unidos e ainda sem conseguir justificar as perdas em vidas e dinheiro em duas guerras na Ásia pouco soube fazer. O presidente republicano foi, sem querer, o maior cabo eleitoral do candidato democrata.

Obama recebe um governo desacreditado em termos sociais, econômicos e ambientais, precisando se recuperar de um retrocesso de oito anos. Foi essa situação que fez o eleitorado norte-americano tornar real uma possibilidade tão remota – e a cor da pele do novo presidente, embora não tenha sido lembrada por ele próprio em seu primeiro discurso, justifica a esperança e a comemoração.


Afinal, a vitória de Obama é a vitória da tolerância sobre o preconceito e do diálogo sobre a imposição, mesmo que o sucesso do novo presidente contra as vicissitudes que sofre a população mundial seja relativo. Nascido no Havaí e tendo vivido na Indonésia, Barack Obama não cresceu imaginando-se o umbigo do planeta e já conviveu com a realidade do Terceiro Mundo.

É razoável esperar dele um posicionamento mais aberto, universal e preocupado com o futuro – com o meio ambiente, com a realidade das outras nações, com o uso da riqueza mais em preservar vidas do que em eliminá-las. Mesmo que muitos outros passos tenham que ser dados, o primeiro Obama parece disposto a dar, e é isso que esperamos também nós, cidadãos de outras nações, do presidente do país mais rico do planeta.