8.8.09

Bobagens, bobagens

Frédi, um amigo meu, me contava outro dia sobre uma conversa que teve com um colega de trabalho, chamado Mauro Arcélio. Perguntava o colega se, pelas leis da Física, não seria possível captar no ar a palavra dita há tempos por alguém. E Frédi, notório especialista em assuntos gerais, achou que não, que as ondas sonoras que produzimos, de tão fracas, se dissipam muito rápido, além de se misturarem com os outros sons. A hipótese então levantada pelo Mauro Arcélio: se tudo o que dizemos se dissipa, se nada fica, então por que nos preocuparmos em só dizer coisas sérias? Por que deixar de rir e de dizer bobagem se nada vai ser escutado dali a poucos segundos?

Lembrou-me aquela máxima, não leve a vida a sério, pois não se leva nada dela. Este Mauro! Pensei, faz sentido o que ele disse. Pelo menos para nós, mortais incapazes de mudar o mundo, o sério é pegar leve, com bom humor, e expressá-lo livremente. Manter a cara séria e amarrada, isso sim é bobagem. Nascemos longe de Kripton ou de uma Mansão Wayne. Que diferença vai fazer para a ordem do universo?

Não é o caso de cidadãos de outras esferas, inalcançáveis, e que sabem que deveriam levar a sério o que fazem. E se aproveitam de que a voz se dissipa na atmosfera, assim como nossa memória para certas bobagens.

A governadora acusada de improbidade administrativa pode deixar que crianças estudem em salas de aula de lata, mas os professores não podem protestar em frente à residência dela. Eles são “torturadores de crianças”, pois os netos da governadora não puderam sair de casa. Crusius credus! Na televisão, um ex-presidente, apoiando outro ex-presidente, manda o senador que disse a verdade digerir a própria língua, duela a quien duela. Dias depois, digladiam-se no mesmo local um cangaceiro de terceira categoria e um coronel de merda. Todos vossas excelências, trabalhando para o povo. É fácil alcançar R$ 2,7 bilhões para 81 senadores gastarem num ano, difícil é encontrarmos uma finalidade para o Conselho de Ética.

Qual o problema, então, de falar bobagem? A pior já fizemos, foi eleger certas pessoas. Vou dizer ao Frédi, se o Mauro Arcélio quiser um dia expressar todas as suas ideias, põe muito blogueiro bom no chinelo.