2.7.10

Deus e o Diabo na terra do gol

Nunca entendi direito, em Copa do Mundo, a torcida que o brasileiro faz para os times mais fracos. Comungo a idéia daqueles que gostam de ver o sucesso de seleções sem tradição, como sempre acontece quando uma equipe africana passa para as oitavas de final – mas pela mudança, pela diferença. Não compreendo meus conterrâneos torcendo pela Eslováquia contra a Itália ou pela Suíça contra a Espanha somente para facilitar o caminho para o Brasil mais adiante.

Sem desmerecer uma ou outra seleção, contra quem teria mais valor o Brasil decidir uma Copa? Contra a Suíça ou contra a Espanha? Aqui, no país da vantagem e do jeitinho, quanto mais fácil melhor. Ao chegarmos à África do Sul, desfiamos as dificuldades de jogar contra a Coréia do Norte e a Costa do Marfim como que para ocultar outro fato, bem mais real: não tínhamos condição de passar por uma equipe mais forte, como a Holanda.

Nem bem tinha terminado o jogo contra o famoso time de laranja e, além do técnico Dunga, cuja carta já estava marcada pela TV Globo desde o início da Copa, um Cristo já havia sido escolhido para ser crucificado pelos pecados da Seleção Brasileira, de Dunga e da CBF. Como se o gol contra não bastasse, Felipe Mello ainda recebeu um cartão vermelho. Mas é exagero condená-lo sozinho. Bastou ver o comportamento em campo dos incensados Kaká e Robinho, após o segundo gol holandês, para vermos que não nos acostumamos, ainda, à dificuldade, à derrota.

Nem sempre é possível jogar bonito, e o atual futebol, enlatado pela tecnologia que tudo vê e pela globalização que tudo compra, padronizou esquemas táticos, equilibrou resultados, e cada vez mais a postura psicológica de uma equipe determina o resultado em campo. É fundamental, claro, a segurança de um Júlio César no gol, a força e a integridade de um capitão como Lúcio, a manha e a categoria de um Robinho no ataque. Entretanto, jogadores, equipe técnica, imprensa, torcida – os tão falados 190 milhões de treinadores da Seleção Brasileira, enfim – deviam perceber que um time de futebol não é composto de deuses nem de diabos, mas de homens. Assim, sem sabermos ganhar nem perder, continuaremos empatando.