3.10.06

Reflexões sobre uma eleição

I

Ao final de tudo, não votei no candidato “Anula Lá”, do qual fiz propaganda algumas vezes. Não que eu tivesse encontrado candidatos a quem eu confiaria a guarda de minha casa, como disse o presidente do TSE, Marco Aurélio Mello, na televisão. O fato é que, apesar da argumentação ultrapassada, lembrando um romântico Lula pré-1989, mas sem metade da habilidade, Heloísa Helena me parece mais autêntica. E, para o governo do Estado, não havia chance de comparação entre Olívio Dutra e um hipotético segundo turno entre Yeda Crusius e Germano Rigotto.

Também é fato que estamos nas mãos da legislação, que ignora na contagem final os votos brancos e nulos – ou seja, não permite a abstenção como forma de protesto. Somos obrigados a votar, não no candidato melhor, mas no menos pior. Afinal, discordo de Cristovam Buarque quando disse que o brasileiro não é corrupto por natureza. É sim, senador, essa é a cultura em que vivemos: todos, podendo, querem tirar sua casquinha. E, ironicamente, esse é um dos motivos pelos quais não anulei meu voto. Mas que deu uma vontade grande, isso deu.

II

Ouvi um pedaço da primeira entrevista que Olívio Dutra concedeu como candidato a governador no segundo turno. Votei nele por simpatia, pelo histórico de honestidade e por falta de melhores nomes, mas o discurso de Olívio está cada vez mais cansativo e vazio. Entendo perfeitamente e concordo com ele quando diz que o Estado é um espaço de construção da cidadania ou cita o protagonismo do povo como orientador de sua política. Mas que significado têm essas palavras para o cidadão comum, o operário, o trabalhador informal?

Esse discurso, que já vem dos tempos da eleição à Prefeitura de Porto Alegre (1988), é tão vago quanto o de tantos desconhecidos candidatos a deputado federal que traziam como principal proposta a mudança no Congresso. Olívio tem tido sorte, ainda mais numa campanha sem ímpeto como a deste ano, ao transformar palavras imprecisas, como dialogar com as pessoas de bem e resgatar a democracia, em votos. Mas haja sorte! Unir as forças do campo democrático, espraiar o número de votos e vencer Yeda no segundo turno não será nada fácil.

III

José Roberto Arruda, deputado “pianista” envolvido no caso da violação do painel eletrônico da Câmara e que havia renunciado ao mandato, elegeu-se governador do Distrito Federal no primeiro turno. Fernando Collor de Mello, quem diria, foi eleito senador das Alagoas pelo PRTB. Outros nomes? Antonio Palocci, Paulo Maluf... E eu que pensava que tinha a memória fraca.

IV

Cada eleição é decidida por determinadas atitudes do eleitorado, que podem confirmar ou desmentir tendências. Um fenômeno o desencanto com Lula que captei aqui e ali: alguns eleitores realmente achavam que ele seria um “salvador da pátria”. Bem, o partido do vice de Lula, em 2002, já desmentia essa tese. Confiar em Lula, desapontar-se e, como punição, votar em Geraldo Alckmin é prova da volatilidade da consciência política do brasileiro.

Mas nada se comentou mais, em Porto Alegre, do que a migração de votos de Germano Rigotto para Yeda Crusius. Levando em conta a pesquisa do jornal Correio do Povo publicada no dia 29 de setembro, Rigotto perdeu, nos três dias até a eleição, exatos 296.131 votos, ou seja, quase 100 mil votos por dia. Se o eleitorado do governador Rigotto queria impedir um segundo turno entre ele e Olívio, conseguiu.

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