18.1.09

Passagens (março): o segundo passo

O que fiz em termos de cinema após a apresentação de meu primeiro curta-metragem não condisse com o entusiasmo daquele momento. Ao longo de dois meses, fui convidado para co-dirigir outro curta, no qual precisaria comandar ensaios com um elenco bem maior, e considerei fazer direção de produção de um terceiro filme, junto a uma equipe profissional. Que desafios! Essas produções, no entanto, não foram adiante, e o entusiasmo kaputt!, fez água. Meu café, mais que cortado, parecia pequeno.

Agarrei-me então a uma tábua que eu não esperava. Entrei para um grupo de estudos sobre direção de arte, coordenado por Gilka Vargas e Iara Noemi. Minha ignorância sobre o assunto não era de admirar; mesmo no meio cinematográfico, muita gente ainda não reconhece que o diretor de arte não é meramente o responsável pelo cenário. Não, ele comanda uma grande equipe de técnicos (cenógrafos, figurinistas, maquiadores, entre outros), dando coerência artística e estética a todo esse trabalho. É (ou deveria ser) um dos manda-chuvas do set de filmagem, junto com o diretor de fotografia e o diretor propriamente dito.

Nem penso em trabalhar com direção de arte, mas o conhecimento nessa área mudou minha concepção sobre cinema. Assim como o montador, ao decidir os tempos das tomadas, o diretor de arte, no momento em que define ambientes, relações entre espaços e cada objeto que estará em cena, tornou-se para mim também um dos “donos” do filme. E passei a ir ao cinema cuidando coisas diferentes, como distribuição de espaços, texturas predominantes e objetos com significado especial para a história.

Quanto mais sei sobre cinema, maior o abismo entre os enlatados norte-americanos e os filmes ditos “de arte”. Alguns diretores podem ser generosos com o público, como Woody Allen ao explicar a metáfora (genial, diga-se de passagem) da bola de tênis em “Match point”. Mas não obrigatoriamente, e então podemos ver o filme sem entender o que representa, por exemplo, a casa em “Delicatessen” (dos franceses Marc Caro e Jean-Pierre Jeunet) ou o relógio do capitão em “O labirinto do fauno” (do mexicano Guillermo del Toro).


Mas este meu segundo passo no mundo do cinema também teve efeitos práticos. Confirmou a volatilidade de grupos e projetos no universo cinematográfico. Se pouquíssimos sobraram do grupo de estudos inicial, em março, que parecia reunir sozinho todas as funções básicas de um curta, também havia no final do ano outras pessoas, com sangue novo e boas idéias. Recuperei a vontade de escrever e filmar (alô, Paula! Vamos fazer um filme?). E percebi que, embora esteja me naturalizando nesse país chamado cinema, ainda me sinto um estrangeiro – aviso para que eu dê novos passos e siga caminhando por ele.

5 comentários:

Katia K. disse...

Texto interessante.
Mas não se esqueça de que ainda há muitas fronteiras a desbravar no maravilhoso mundo do cinema... E todos são estrangeiros nessas terras.
Abraços!

Anônimo disse...

Labirinto de fauno é genial...

É, tem coisas que quando mais aprendemos, mais temos que aprender para termos a sensatez necessária para separar o joio do trigo, e isso vale para o cinema e para a vida.

Ah! Quanto ao teu comentário no meu blog, tens razão, acho que é mesmo a linha de partida!
beijo!

Cátia

Paula disse...

Vamooosss!!!!
E bah, esse grupo com certeza abriu muitas linhas de racíocionio novas, além de novas visões e para mim, novas portas e oportunidades.

Claudia Pinelli® disse...

Amigo Wolff, como vc escreve bem, hein?

Mas do seu texto, reflito e tiro uma sugestão básica para te dar:

persevere, meu caro...

Não se pode abandonar o barco, na primeira chuvinha. Não acha?

Força sempre.

Bjo da amiga,

Claudia.

P.S. Pois é, é justamente para provar que existe algo muito mais importante do que um mero horário nobre na tv... rs...

Bjo p vc.

Katia K. disse...

Está na hora de atualizar...
:-)