
Conheço gente que possui, parece, um botão liga-desliga de alegria. Sextas-feiras, Natal, Ano Novo, Carnavais (sejam na época em que forem). Muitos vão para não dizer que não estiveram presentes, outros tentam apenas extravasar, exorcizar fantasmas; mas percebe-se em tantos foliões do Sambódromo carioca ou da Sete de Setembro em Salvador, para ficarmos nesses exemplos, uma alegria legítima, cultivada ao longo do ano a despeito de todas as dificuldades e florescida naquele preciso momento, fenômeno esse para mim tão admirável quão inexplicável.
Entretanto, eu não tenho esse botão liga-desliga, o que debito talvez à hereditariedade alemã ou à cultura subtropical de Porto Alegre. Não me alegram a música de Ivete Sangalo ou a voz etílica de Zeca Pagodinho. Prefiro a idéia do Ano Novo plácido, tranquilo, com um violão à beira-mar e meia dúzia de bons amigos esperando os primeiros raios do sol. Antes uma virada que permita pensar que uma preocupada em esquecer.
Meu dezembro não foi fácil, é bem verdade. Doenças em família se somaram a uma insana, ilusória e inócua corrida, no ambiente profissional, para “colocar o trabalho em dia”. Assim como a televisão tenta nos convencer de que temos um botão da alegria, as corporações acham que temos também um botão para trabalhar além dos limites. Nem máquinas fazem isso: imagine-se o que aconteceria a uma lavadora de seis quilos carregada com dez quilos de roupas. Nessas horas, vê-se com mais nitidez a quem é dada verdadeira valorização pelo trabalho feito, e uma sensação de cansaço, inutilidade e desapontamento diminuiu muito a alegria desta época.
Não pensem, contudo, que choro de barriga cheia. Não desconsidero tantos que passaram por coisa bem pior em 2009. Apenas conto a história que reforçou minha desobrigação de me sentir estupidamente feliz nesta virada de ano – e que teve, de certa forma, um endosso do chargista do Correio do Povo. A vida segue, nem tanto ao céu dos fogos de Copacabana, nem tanto ao mar(asmo) do personagem de Amorim. E, com ela, seguem as tentativas, para quem realmente quiser abraçá-las, de criar motivos de amor, paz, sorrisos e realizações em 2010. Talvez seja esse o verdadeiro botão da alegria de cada um.