5.2.07

Voltando

Talvez um que outro de meus dois ou três leitores nem tenha reparado, mas fiquei duas semanas fora do ar. Melhor dizendo, fora destes ares de Porto Alegre, pois fui procurar outros, por absolutamente necessário. Há muito que minha migração para o sul deixou de ser anual, colocando em risco a sobrevivência de minha espécie, que, como já disse aqui, não é deste mundo.

Não que eu tenha escapado da necessidade do celular ou das páginas da vida (???) exibida por Pedro Bial todas as noites de verão. Ah, a inevitável TV Osmose! Contudo, a estrada, após dois anos, era o caminho para que eu não fosse pavimentado pela rotina de trabalho, compromissos e poluição – e encontrasse lugares onde pudesse caminhar à noite, ouvir um galo cantar ou enxergar as estrelas – sim, elas ainda estão lá no céu!

Foram 1.200 quilômetros em 13 dias, nos quais ignorei completamente Internet, MSN e minha paixão pela sétima arte. No entanto, desconheci a palavra despertador, revi o saudoso mar (que enfim apresentei à minha filha), nele mergulhei relendo “Moby Dick”, e meu olhar pôde atravessar a rua pensando: “O Brasil é do lado de lá”. Apenas não tive muita oportunidade para praticar o espanhol que aprendi, pois en la ciudad de Chuy, nestes tempos de dólar em baixa, muitos dos funcionários das lojas nasceram do outro lado da rua y hablan Portugués muy bien.

Porém, mais valioso que tudo isso foi o reencontro com outra natureza – a minha própria, ou parte dela. E isso já se manifestava em agosto, quando, em meteórica (como de costume) visita a Bagé, prestigiei a festa do 80º aniversário de uma tia. Esperar dois anos para poder sair da cidade e desfrutar de duas horas com a família! O que traz tamanho apego àquelas dezenas de pessoas, algumas das quais mal conhecemos?

Não sejamos hipócritas, é claro que a afinidade varia muito; antipatizar não é crime, diferenças sempre existem, e talvez algumas amizades de ouro estejam ali escondidas, apenas não foram descobertas porque a disponibilidade de tempo e a distância entre as moradias foram grandezas inversamente proporcionais. Buscamos a família também devido a essa carência, que nunca será satisfeita.

Essa visão mais amarga me fez lembrar Zach Braff, quando, no filme “Tempo de voltar”, diz que família é “um grupo de pessoas que sentem falta do mesmo lugar imaginário”. Foi-se a época das longas visitas entre primos, do tempo livre para passear e brincar. E algumas nem eram tão longas; quando somos pequenos, o tempo parece maior, talvez por isso mesmo.

Mas, independentemente daqueles vínculos mais fortes, daquelas pessoas, digamos, “favoritas”, ainda vejo algum magnetismo nessa idéia chamada família. Se há espaço para a aparência, há também para a verdade. Já fui chamado de anti-social devido à timidez, mas, se fosse um misantropo, eu não viajaria 380 quilômetros para voltar na manhã seguinte. O tempo não permite mais que uma família se conheça como em outras épocas, mas ali há pessoas que eu verdadeiramente amo.

E na minha recente migração ao sul, da qual estou voltando, os melhores momentos eu passei com algumas dessas pessoas. Notando semelhanças, diferenças, manias, contradições, sensibilidades, pude ver peculiaridades que ainda não conhecia e confirmar as razões que há 30 anos eu mal percebia – e que me causavam nós na garganta nas despedidas. Isso é o que vale desses encontros. A certeza de que, dentre tantos lugares imaginários, ainda há portos seguros onde podemos ver alguma identidade, alguma verdade, e que não serão descobertos se passarmos sempre ao largo, deixando de aproveitar as já poucas oportunidades que o tempo nos dá.

2 comentários:

Anônimo disse...

Meu menino...
Quantas saudades eu senti.

Que sua volta seja, mais do que pra nós que te amamos, um renovo de alegria em sua vida.

Como é bom saber que você está aí. Saber (ler) que você escreveu. Espero que essa matéria seja a precursora de inúmeras que lerei por aqui.

Pelo visto você voltou mesmo. O Rê voltou!

Seja bem vindo.

você sabe...

beiiiijos!

Anônimo disse...

Maninho,
Você já tinha me falado desta postagem e eu prometi que passaria por aqui, lembra?
Pois bem, confesso que foi que se eu estivesse me olhando no espelho.

Sabe o que eu senti, você sabe.

Beijos,
Mana.