9.9.07

A vida secreta das palavras


Tão raras têm sido minhas idas ao cinema que me vi perdido ontem, ao buscar um entre os 40 títulos na programação. Para quem trazia intocadas na mente as imagens do nada convencional “O livro de cabeceira”, de Peter Greenaway, assistido em junho, a escolha se tornava ainda mais difícil. Decidi então confiar apenas no palpite que uma ficha técnica me assoprava.

A origem espanhola do filme, por si só, não queria dizer muito, mas o engajado Tim Robbins, um de meus atores favoritos, não cometeria um deslize logo depois de ter filmado “A guerra dos mundos” de Spielberg. Além disso, foi em frente aos cartazes que descobri o dedo dos irmãos Almodóvar, Agustín e Pedro, na produção executiva. E o título do filme parecia, o tempo todo, mexer com vara curta com um de meus motes favoritos – o silêncio. Assim resolvi conferir “A vida secreta das palavras”, da catalã Isabel Coixet.

A escolha não poderia ter sido mais feliz. Josef (Tim Robbins) se recupera das queimaduras e da perda da visão causadas por um acidente na plataforma petrolífera em que trabalha, e a enfermeira Hanna, vivida por Sarah Polley, é contratada para atendê-lo. Josef é curioso, falador, e Hanna, introspectiva, é quase surda. As luzes oblíquas do filme, adequadas aos mares da Irlanda, onde se passa a história, e os pouquíssimos funcionários que restam na plataforma desativada ressaltam o ar de solidão e o diálogo aparentemente impossível que vivem o petroleiro cego e a enfermeira surda.

O maior valor deste drama, a um só tempo delicado e contundente, é mostrar aos poucos como Hanna e Josef se permitem dialogar – e, principalmente, por que o silêncio é escolhido por tantas pessoas, as palavras secretamente ganhando vida e esperando o momento exato de serem ditas. A descoberta gradual dos dois personagens permite também ao público encontrar no filme de Isabel Coixet uma dimensão insuspeitada, incabível neste comentário, mas que explica também o caráter indie da obra da catalã. Lançado nos Estados Unidos em apenas uma sala, rendeu na “terra do cinema” míseros 20 mil dólares, enquanto, no resto do mundo, arrecadava 5 milhões de dólares. Prova de que o bom cinema independente tem vida própria, como as palavras que Josef e Hanna teimavam em ocultar.

Foto: http://www.rottentomatoes.com/m/secret_life_of_words/gallery.php?page=2&size=hires&nopop=1; Strand Releasing

3 comentários:

ninguém disse...

fiquei mt a fim de ver, gosto dele como ator e diretor
boa dica]
bj

Katia K. disse...

Boa dica, vou assistir :-)

Anônimo disse...

Eu gostei muito do filme. Fiquei emocionada e mais sensível ao silencio das pessoas embora goste muito de escarafunchar sentimentos
buscando palavras.
Gostei muito do seu blog.
Um abraço