29.10.07

Um coração

O acaso não nos fez parentes ou amigos. Apenas lados opostos na rotina diária no foro. Mas, nas vezes em que o encontrei, nenhum dia pareceu lhe valer um sorriso, chamando minha atenção e a de quantos com quem falei. Preocupação, seriedade constante, um vago tédio. O que guarda um coração assim? Tristezas, rancores, amores? Uma frustração antiga, uma carreira mal escolhida? A juventude ainda lhe dava tempo para um recomeço se fosse o caso, pensei.

Mas não foi, soube esta semana. O coração dele parou de bater, levando junto o que nele estivesse guardado. Morte súbita aos 35 anos. Um rapaz. Triste e chocante notícia, apesar de conhecê-lo só de vista. Meus pais já viveram mais que duas dessas vidas. Eu, nessa idade, nem era pai, nem havia redescoberto o cinema. Há vidas que terminam antes de começar.

Mesmo desconhecendo a história dele, pergunto: o que fica? De que vale guardar frustrações, economizar sorrisos e acumular preocupações se é para tudo virar pó hoje ou amanhã? O que pensamos não acontecer acontece. E, pergunto de novo, o que fica? Uma lição para os sobreviventes, quem sabe. De que, se é inevitável na vida um pouco de fel, que este não predomine. Se a vida é apenas uma expectativa, o amanhã não passa de possibilidade, e melhor seria se jogássemos o rancor, a amargura, a dúvida às nossas costas, em vez de deixá-los à nossa frente, esperando que caiamos num buraco por nós mesmos cavado.

1.10.07

Curtas

Vejo em notícia no Yahoo! que o governador do Distrito Federal resolveu “demitir” o gerúndio da administração pública da capital. Uso impróprio do verbo à parte, talvez a idéia seja impedir que se diga, repetidamente, que o governo está fazendo isto ou vai estar fazendo aquilo. Mas pode significar uma ordem para que, no final das contas, ninguém esteja fazendo nada.

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Duas derrotas do Colorado em Gre-Nais, e dê-lhe Deuter para suportar tranqüilo a flauta do velho rival da camisa azul. Depois, cedemos em dois minutos um empate em 2x2 com o Atlético Mineiro – no dia seguinte, a trilha que eu ouvia era Enya. E nem adiantou jogar melhor, domingo passado, se o adversário era o São Paulo, campeão escolhido pela Globo muito antes do fim do primeiro turno. O Inter acabou perdendo de 2x1, de virada, e com a ajuda da arbitragem. E meu estoque de música new age está terminando...

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Deu na televisão esta noite: o senador sergipano Almeida Lima, um dos mais fortes aliados de Renan Calheiros, será o relator de dois processos contra o presidente do Senado. Tudo para apressar a absolvição de Renan – e a entrega da pizza, que não pode esfriar. E a escolha do relator foi feita pelo presidente do Conselho de Ética! Ainda bem! Logo, logo, teremos esquecido toda essa história. Aliás, do que eu estava falando, mesmo?