9.7.07

Mittjahr

“Mudaram as estações
Nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Está tudo assim tão diferente...”


... e foi ao meio-dia da segunda passada. Foi quando o tempo, alcançando a cumeeira de 2007, não viu caminho senão descer de novo, rumo ao ano que vem. Mero símbolo, num ponto mediano entre outros dois, não menos arbitrários, criados para marcar nossa existência e, quem sabe, reanimar algumas esperanças. Sim, segunda-feira, 2 de julho, ao meio-dia, foi o meio do ano. Conceito impreciso, que só o mais preciso dos idiomas, o alemão, para forjá-lo numa só palavra – Mittjahr – e só os elfos da Terra-Média para tê-lo no calendário, graças a seu pai, Tolkien.

Do alto dessa cumeeira, os dois lados dessa montanha de tempo me parecem muito diferentes. De tudo que 2007 propôs, como são os dias agora? Após décadas, meus pais, deixando uma casa que representa metade de suas vidas, em nome de mais conforto e segurança. Tantos amigos aperfeiçoando-se, conhecendo lugares, produzindo ou adquirindo conhecimentos. Outra amiga, que não se diz capaz de mudar uma situação insustentável, mas que, aos poucos, prepara o vôo para a liberdade. Enquanto isso, em outros ares, nuvens regam fora de época um belo jardim de gardênias.

Visto de perto, entretanto, o tempo nem parece deixar rastro, eis que mal se percebe quando os vales luxuriantes se tornaram a vegetação rasteira do cume. Viradas na vida parecem acontecer só com os outros. Quantos planos foram realizados – ou as “resoluções do Ano Novo” eram um eufemismo para “vou empurrar com a barriga para o ano que vem”? Alguma atitude foi tomada, algum comportamento deixado de lado? O que sei hoje que já não soubesse em dezembro passado? Nem meu ventre roliço me poupa. Olho para ele e pergunto: o que afinal os egoístas vêem no próprio umbigo?

Já vivi meios do ano incríveis. Foi num 2 de julho que saí de casa para morar sozinho... Mas alguém fala do Mittjahr com alegria? Ninguém lembra que o ano já passou da metade sem denunciar um ar de desalento. E, ironicamente, a cada virada, damos um pé na bunda do ano que acabou e lavamos as mãos das resoluções assumidas e não cumpridas. A culpada, talvez, seja nossa natureza insatisfeita, aquela mesma que joga tinta verde na grama do vizinho. Que seria melhor? Voar um pouco mais alto e ter uma visão mais distante e realista ou centrar-nos em nós mesmos, dando asas aos sonhos e assumindo o risco da frustração? Uma interessante questão para os (quase) seis meses que restam a 2007.

Um comentário:

ninguém disse...

Olha. Eu, que quero chegar aos 100, já me vejo a alguns metros da descida do outro lado do morro. Onde as cores são mais pra pastel que pra vivas, as flores mais delicadas que deslumbrantes e a vista que se divisa é, digamos, mais real do que aquela que eu adivinhava por trás do pico. Pior é que eu ainda tenho tanta coisa pra decidir e, sabes, ladeira abaixo é mais rápido e quase incontrolável.
um abração
maristela