23.6.07

Luísa e eu

Serenos, os olhos dela repousam enquanto os meus se descobrem de novo embevecidos, como em nosso primeiro encontro – e nem parece que isso se deu já há mais de um ano. Agora, que a idade de Luísa supera e muito o tempo que esperamos por ela, agora, dizia eu, é ela que espera por nós.

Dormindo, ela espera (mesmo sem ter noção disso) que, ao acordar, possa receber alimento, amor, conforto, lazer, estímulo – a atenção de que necessita. Em retribuição, vai nos mostrar alegria, vitalidade, crescimento, curiosidade – e, ao dormir, a mesma serenidade que vejo agora.

Luísa dorme sem desconfiar de todo o esforço que foi necessário para que ela estivesse neste mundo, neste texto. E é por isso que às vezes me pego embevecido: um pequeno protótipo de gente que, antes mesmo de engatinhar, já nos dava mostras de atenção, esperteza e encantamento com o universo que a rodeia e já reconhecia o próprio nome quando era chamada.

Vejo hoje que cada hora que se adiou o descanso ou o sono (a começar pela madrugada em claro que foram suas primeiras horas de vida) foi dada a Luísa, para que pudesse dormir assim, serena, e, de manhã, mostrar um sorriso que nada no mundo pode pagar. Vejo hoje que, embora não seja condição indispensável – eis que o amor paterno existe e é também incondicional –, enxergar-me em pequenos detalhes como o feitio dos dedos de Luísa ou em certas expressões de seu rosto reforça meu apego a ela e o sentimento de perenidade e de perfeição da ordem das coisas.


Os dias são diferentes desde que ela chegou – mais curtos uns, mais cansativos outros, mais tensos até. Mas dedico a Luísa estas linhas, pois têm sido dias também de aprendizado e de descoberta, inclusive de que, após seu nascimento, Luísa e eu, filha e pai, passaram a ser.

5 comentários:

Telejornalismo Fabico disse...

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alguém pode limpar a baba desse blog?
tá escorrendo por tudo.

faltou a fotinho, né?
pra deixar o espaço mais iluminado com aqueles deslumbrantes olhos azuis.




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ninguém disse...

Oi. Vim do blog da Simona pr� c� por achar que te reconhecia, pela foto, como antigo colega do Correio do Povo que passava pelo calv�rio de todos os dias de revisar os textos que a gente cometia por l�. De todo modo, se essa "coincid�ncia" for obra do tio alzheimer, acho que n�o importa.
O que li j� vale a vinda. Vou linkar teu blog.
abra�os. e parab�ns pela filhota.
maristela

Anônimo disse...

Mano...Confesso que me emocionei com esta postagem. Acho que já comentei com você o meu NÃO desejo de ser mãe, certo?! Pois bem, é assim que as nossas opiniões mudam, não é verdade?! "Eu prefiro ser uma metamorfose ambulante do que ter uma opinião formada sobre tudo".
Só tenho a agradecer e parabenizar.
Beijos!

Katia K. disse...

Lindo texto, papai coruja!
Grande abraço, e muita felicidade pra pequenina :-)

SILVÂNIA CAMARGO disse...

Agora que já assimilei o impacto (e também um certo constrangimento...) de ter a sua visita e o seu comentário no meu blog (que é bem pueril se comparado com o seu...) senti vontade de deixar um comentário aqui no "seu reino" e, para isso, escolhi o post que me deixou mais absorta e emocionada: "Luísa e eu" tem um conteúdo denso, vindo do íntimo, mas escrito de forma doce e melodiosa: uma declaração de amor paterno em grande estilo!