20.6.07

O público duplo

A não ser que alguém tenha chegado atrasado, eram duas as pessoas assistindo a “O homem duplo” (A scanner darkly), hoje à tarde na Casa de Cultura Mario Quintana. Quase sessão privativa, nunca havia visto um público tão pequeno. Muito não se podia esperar de um horário vespertino, em dia de semana, mas ainda assim é frustrante ver o público que resta para um filme inteligente, de qualidade – e, principalmente, que foge do mainstream cinematográfico.

Num futuro próximo, em que quase mais nada escapa à monitoração da polícia, Keanu Reeves é um agente que recebe a missão de investigar a si mesmo por causa do vício em uma poderosa droga, que altera a noção de realidade do usuário. Para recontar a surpreendente história escrita por Philip K. Dick (o mesmo autor das histórias de Blade Runner e Minority Report), o diretor Richard Linklater aplicou uma animação – denominada rotoscopia digital – sobre as imagens filmadas, criando uma atmosfera psicodélica e em constante e incômodo movimento.

Temas como drogas, criminalidade, auto-identidade, decadência da sociedade, poder das grandes empresas, controle da informação e da vida privada fazem de “O homem duplo” uma história muito mais real e atual do que a tecnologia fictícia do filme poderia sugerir. Mas, em tempos de Shrek e Piratas do Caribe, quem quer ver um filme sério e ainda com um visual perturbador? Revejo nos jornais que o filme de Linklater estreou em Porto Alegre no dia 8, praticamente junto com o lançamento nacional do DVD. Se mesmo a vida dos arrasa-quarteirão tem sido curta, alguma chance de que “O homem duplo” sobreviva a esta quinta-feira?

Um comentário:

Katia K. disse...

Esse filme ficou em cartaz uma mísera semaninha em Sampa... não consegui assistir :-(
Mas gostei muito do post! Abraços!