16.7.05

Final alternativo

Uma inspiração rápida, um tempo curto, e meu texto fez uma querida amiga dizer o que na pressa eu havia omitido. Como um molho de chaves ou um número de telefone, ficou ao lado do teclado, esquecida, minha emoção.

Deixei-me levar pela racionalidade fria da análise de coincidências e não parei para me olhar no espelho e ver o que da memória nele se refletia. Por isso vuelvo a los 17... afinal, “deveria haver nesse intervalo mágico de 365 dias (...) algo que os outros não tinham – algo esse que eu não percebia”.


E se, agora, eu tentasse perceber?

Eu veria que, apesar do brilho dos meus 24 anos, nem por isso meus 17 foram obscuros. Os sonhos pareciam uma névoa disforme, mas daqueles dias em que se vê, difusa, a luz do sol. Tempos de assuntos desinteressantes no colégio, mas de mais clareza quanto ao futuro imediato, uma vez que o futuro remoto não havia sido ainda inventado aos 17. A flor do amor-perfeito ainda não desabrochara no jardim, mas já habitava minhas aspirações. Amigos, música, tempo, diversão... e a inevitável batalha entre hormônios e timidez, surpreendente descoberta – embora as vitórias do superego fossem mais freqüentes que as do id.

“We’ve got tonight”, “Hard to say I’m sorry”, “You and I”... ah, mas melhor para dançar era “Making love”, pois tem dois minutos a mais. O outro lado da meia-noite, território não mais desconhecido. Bate-papos e passeios na rua até de madrugada, pois o amigo do alheio não existia, ou estava, isso sim, alheio. Como eu, alheio aos gritos de “Diretas já” nas ruas - os ouvidos eram só para as canções pop descartáveis do rádio - ou o rock “guerrilheiro” de certa banda de Brasília que havia lançado seu primeiro disco e parecia promissora (será?). Futebol de botão - com amigos do bairro, e não com meu avô, que, infelizmente, faleceu também nos meus 17 anos. No cinema, os cartazes apresentavam “Amadeus”, que eu só fui ver anos depois. No futuro, estava apenas o vestibular, fronteira a ser desbravada e que, se não o fosse em seguida, o tempo daria outra chance.

Agora, os tempos são outros, as fronteiras são outras, e quais tenho a chance de desbravar? A da emoção, talvez, de forma bem tímida, como já disseram, mas já a vejo ao longe. E a dos sonhos, talvez não mais disformes, mas que valem a pena serem relembrados, alumiando assim o caminho para os 17 que estão por vir.

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