12.7.05

Volver a los 17

“De par en par la ventana
se abrió como por encanto
y entró el amor con su manto
como una tibia mañana
y al son de su bella diana
hizo brotar al jasmin
volando cual zerafin
al cielo le puso aretes
y mis anos en 17
los convirtió el querubín.”

(Violeta Parra)

Estava eu com 17 anos quando uma prima, dois anos mais nova, manifestou “como deve ser bom ter essa idade”. Também aos 17, um colega de curso de Inglês, que já havia chegado aos 24, afirmou: “Aproveita essa idade, é a melhor fase da tua vida”. Curiosa essa convergência de opiniões, vindas de duas pessoas de idades tão diferentes... O rapaz de 24 sente saudade da mesma idade cuja chegada a adolescente de 15 mal consegue esperar. Deveria haver nesse intervalo mágico de 365 dias, portanto, algo que os outros não tinham - algo esse que eu não percebia.

E continuo não percebendo, pois meus 24 não foram ruins a ponto de eu considerar os 17 tão melhores. Aos 17, eu estava sozinho; aos 24, estava namorando. Aos 17, no segundo grau, aprendia matérias que pouco me interessavam; aos 24, prestes a me formar em Jornalismo, estava cheio de planos e começava a adquirir um verdadeiro gosto por escrever. A iminência de me deparar com o mundo real dos recém-formados não me assustava tanto quanto a lembrança de que precisaria me alistar no ano seguinte.

O que me parece fazer sentido em meio a tantos aparentes contra-sensos é a diferença de situações. Meu colega de Inglês não teve oportunidade de fazer faculdade, estava trabalhando e ia se casar. Talvez os 17 dele tivessem sido melhores, com menos preocupações. E talvez chegar aos 17 fossem, para minha prima, o sonho de poder conquistar, dali a um ano, todos os direitos de uma maioridade cujas responsabilidades meu colega de Inglês já conhecia muito bem.

Voltar aos 17... vejo isso agora como um símbolo para um tempo, individual, que mescla os sonhos e a alegria da adolescência com o poder e a independência da vida adulta. Cada um tem seus 17 - os de Violeta Parra, assim como os de meu colega e os das aspirações de minha prima, caíram justo aos 17.

Agora que já somei 17 aos 17 e ainda mais alguma coisa, percebo que os meus 17 não caíram em um tempo assim definido. Entretanto, muito antes de eu conhecer a canção e de perceber a estranha coincidência que ligou minha prima e meu colega de Inglês, que nunca se viram, toda vez que eu dava vazão a meu lado mais alegre, mais criança grande, mais despreocupado, por alguma razão que desconheço esse lado tinha idade definida: 17.

3 comentários:

Anônimo disse...

"Volver a los 17"... Essa frase me soa meio melancólica, e hoje, do "alto" dos meus 24, vejo que meus 17 me deixaram saudades... Não por conta das responsabilidades que hoje tenho, nem por conta do "peso da idade", mas por uma série de coisas que se foram, e não voltam mais:
Os amigos daquela época - dos quais há muito me encontro distante; as coisas que realmente importavam naquela época - hoje as pessoas estão muito fúteis. Os sonhos que despertavam, dia após dia, no meu coração que naquela época ainda era de estudante, e que ainda tinha um certo medo de dar o pontapé inicial na vida, mas nem por isso se desanimava...
Ah... Poucos são os anos que me separam dos meus 17, mas me fazem uma boa diferença.
Se pudesse, diria que mudaria uma coisa ou outra, ou talvez nem mudasse nada, só melhorasse um pouco...
"Volver a los 17"... É uma tarefa difícil, quando não se sabe mais sonhar, e nem se tem memória para relembrar dos sonhos que se costumava ter...

Rê, meu lindo, parabéns pelo texto... Me fez lembrar de uma série de aspirações, sonhos e projetos que acredito, todos nós temos ao passarmos pelos dezessete...
Muito bonito!!!

Baci per te!!!

๑۩۞۩๑ Meriele ๑۩۞۩๑

Katia K. disse...

Caríssimo amigo...
Maravilhoso teu blog, mil perdões por não ter comentado nele antes. É engraçado que, com tanto talento literário, vc ainda se considere um simples aprendiz. Continue escrevendo, por favor :-)
Bem, esse teu post dos 17 me fez ficar feliz por estar chegando aos 24... A gente dificilmente pára pra contar a passagem do tempo, não é mesmo? Valeu por estar sempre aqui e ali me acordando pras grandes verdades.
Abraços super carinhosos!

Anônimo disse...

Não há como voltar aos 17, não há como voltar no tempo. Sinto ainda a noite, a alegria de conhecer novas pessoas, admirar-me com a vida, viajar nas primeiras doses de um vinho barato, sorrir para ninguém e para todos ao mesmo tempo, novidade, tudo é novidade, o mundo se descortina com uma magia nunca antes imaginada, pequenos detalhes revestem-se de encanto, a sensibilidade está à flor da pele e o medo, o amanhã, NAO EXISTE. Toda pequena coisa que se faz é mágica, todo sorriso, todo olhar é uma maravilhosa descoberta. Assim me sentia aos dezessete. Sinto falta? Talvez. Agradeço por tudo. Não sei se o futuro me trará a magia de quem está começando a descobrir seu encanto , suas possibilidades. Mas ele me trará outras coisas porque não faz sentido ficar preso aos 17. Seria um exagero de saudosismo e melancolia. Viva o prazer. Passemos para a próxima taça!!!