1.10.05

O nó da mudança

Cansei-me da dupla, quase tripla jornada. Chegou a hora de deixar o emprego no jornal. Nove anos bastaram. Reconheço, tenho muita sorte em poder dizer isto – mas cansei. Deixo, pelo menos por uns tempos, as palavras alheias para poder encontrar as minhas. Conseqüência, em parte, do mesmo sentimento que me moveu ao iniciar o blog.

Uma mudança como essa parece um longo corredor com uma porta ao fundo: por muito tempo vê-se, ao longe, a porta; mas, para atravessá-la, é necessário apenas um breve momento. Afinal, não é fácil deixar a profissão em que me enxergava desde a infância. Parece que somos diretores iniciantes nas mãos de um grande estúdio, e a vida e o acaso, produtores da película, nem sempre permitem que se mantenha o roteiro original. Mas prefiro considerar-me um diretor independente, rompendo as amarras com uma grande indústria de textos de 13 linhas, feitos para o leitor de hoje, que, infelizmente, não tem tempo para mais do que isso.


Mas não cuspo no prato em que me alimentei. Atravessar a porta de saída foi um momento estranho... e que também teve sua dificuldade.

Minha linha de tempo, mudando de direção, afastava-se (em definitivo?) das linhas dos meus colegas. E percebo, então, que esse tempo todo criou poucos pontos de toque entre as linhas. Tanto que a grande maioria conheceu minha decisão apenas na hora de sair. Alguns ainda não sabem até agora...

Alguns lugares-comuns, parabéns, felicidades, foi ótimo trabalhar contigo, as portas continuam abertas. Apenas uma colega diagramadora quis saber como me sentia e, com isso, conseguiu tocar mais fundo. Mas todos os cumprimentos foram sinceros, o coração vê a estima quando a encontra.

Por isso, a linha do tempo aos poucos foi se enrolando, enrolando, até eu perceber um nó, aqui, trancado. Duro foi segurá-lo... como é duro mudar o caminho! Mas a escolha estava feita, e eu só precisava segurar o nó por mais dez minutos, até estar em casa. Lá ele se desatou completamente, deixando então que a linha de tempo seguisse seu curso.

Um comentário:

Nildo Junior disse...

Renato, a vida nossa é reflexo das nossas escolhas. Muitas vezes erramos, mas na maioria acertamos. Se vamos para um lado e ele não agrada, sempre podemos retornar ao caminho original. O importante é ter a certeza de que buscamos sempre o melhor para nós e para os nossos. Quantas vezes já me perguntei se não era melhor ter terminado um curso para o qual não tinha a menor vocação? Em compensação, a escolha pelo jornalismo me proporcionou realizar sonhos infantis que sempre achei que não passariam de sonhos, como poder trabalhar com o Ruy Carlos Ostermann, de poder fazer um livro do time do meu coração, de poder ver o meu nome estampado num jornal como o Lance!, de poder fazer uma crônica sobre F1 ou FIndy num jornal da cidade, de poder entrevistar o maior jogador de futebol do mundo antes dele ser mundialmente reconhecido. Dinheiro? Fama? Isso não aconteceu, mas ninguém tira aquilo que conquistei. Com certeza, lendo os teus textos, sei que o sucesso baterá na tua porta, que o primeiro livro é só uma questão de tempo. E sempre vai ter uma cadeira te esperando dentro da redação porque tens amigos cativos esperando o teu retorno, mas não para revisor, mas sim para colunista.