13.3.06

Meu dia de fúria

Ontem, em um supermercado, o frasco de Toddy com 400g estava em promoção por R$ 2,89. Fui conferir se havia em sachês, que costumam oferecer 500g pelo mesmo preço de 400g. Para minha surpresa, os sachês custavam R$ 2,98. Ora, isso não fazia sentido. Se a embalagem do sachê dizia “500g pelo preço de 400g”, quer dizer que ela deve custar o mesmo preço que se paga por 400g, não é mesmo? Que explicação se dá para esses R$ 0,09 de diferença? Coloquei cinco sachês no carrinho e, após pagar as compras, procurei a gerência.

Um funcionário do supermercado me disse que, além de o preço da promoção depender de “negociação” do supermercado com o fornecedor, sachê e frasco são “produtos diferentes”, por isso o preço maior. Ora, não é o mesmo produto que está no frasco e no sachê? E mesmo que aceitemos a justificativa do funcionário, que referencial de preço a frase promocional do sachê vai utilizar, se o supermercado não oferecia sachês com apenas 400g?

O que acontecia naquele momento era óbvio: o consumidor perdia a “promoção” do sachê para que se criasse a ilusória “promoção” do frasco. Em outras palavras, alguns produtos ficam mais caros para que paguem os que estão mais baratos. O comerciante, assim, sempre ganha, e eu não preciso dizer quem sai perdendo.

Estava em um supermercado que praticamente monopoliza o setor em Porto Alegre. Quem é daqui sabe de que família a serviço da comunidade estou falando. Não acredito que essa rede tenha qualquer dificuldade na hora dessas, digamos, negociações. Não é à toa que não precisei de mais de um minuto para convencer o funcionário a me devolver os R$ 0,45 a que eu tinha direito. E ainda levei, de lambuja, mais um sachê de graça para casa — para que o funcionário pudesse se ver livre de mim.

Pode parecer ridículo brigar por tão poucos centavos, mas não é isso que está em jogo. Não são os centavos o problema, mas a dignidade. Se parasse para reclamar de tudo que vejo, eu enlouqueceria. Mas de vez em quando é necessário ter um surto de indignação e fazer como Michael Douglas no filme “Um dia de fúria”. Somos tratados como se estúpidos fôssemos porque permitimos. Se mais pessoas se preocupassem com esses pequenos assaltos do dia-a-dia, os comerciantes também não explorariam tanto o consumidor.

Uma vez precisei ficar mais de meia hora pendurado em um 0800 para convencer a gerente do melhor banco do mundo a estornar R$ 0,10 debitados, sem explicação, da minha conta. De quantos o banco não tirou essa quantia “por engano”? Convenhamos, são só dez centavos, mas são meus, não do banco. A mesma coisa diz respeito à compra no supermercado. O vendedor conta com um consumidor passivo e letárgico, e não com uma reação ridícula e mesquinha como a que eu tive. Por isso as coisas seguem como estão. Entretanto, mais que se livrar de mim, o funcionário do supermercado provou uma coisa: no fundo, no fundo, que nem Michael Douglas, eu tinha razão.

Um comentário:

Nildo Junior disse...

Grande Renato, Se todos fôssemos indignados não haveria tanta malandragem para cima dos incautos.