16.8.05

Omissão impossível

Há um bom tempo que me vem uma vontade de, simplesmente, prosear. Da mesma forma, um assunto vem me rondando neste blog: cinema. Decidi, então, matar os dois coelhos num só golpe.

A peteca me veio jogada por outro blog, do Eduardo Gameiro, que roteirizou “Sem Ana”, um trabalho selecionado para a mostra competitiva do Gramado CineVideo, evento paralelo ao Festival de Cinema. Poucos vão ficar sabendo dessa informação, pois o site oficial julga importantes apenas direção, edição, direção de arte, fotografia e trilha sonora. Roteiro e produção (Janie Paula e Eduardo Saraiva) foram ignorados.


Até posso compreender, como jornalista, que não haja condições para que os meios de comunicação coloquem a ficha técnica inteira dos filmes. Os jornais não têm espaço suficiente; rádios e TVs não dispõem de tempo. Agora, o site tem um considerável espaço vazio embaixo das informações do filme. Falta de tempo? Não acredito. O Festival começou ontem, dia 15, mas as ausências já estavam lá no dia 10.

Pode parecer pouca coisa, ainda mais que o valoroso roteirista está anunciando seu trabalho e se mostrando feliz em ter chegado lá – apesar dos deslizes da divulgação oficial do evento. E apesar da importância do roteiro – se os atores são as “caras” do espetáculo e o diretor é quem manda no filme, o roteirista é o dono da história, às vezes sobrepujando a importância do diretor, vide “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”.

Tudo isso me parece sintomático do pouco cuidado com o valor da informação e também da pouca importância dada aos novos valores em um mercado abarrotado de filmes, no qual os brasileiros (que não vão aparecer sem uma fornida muralha de propagandas antes da projeção do primeiro fotograma) ainda têm muita dificuldade frente aos arrasa-quarteirões made in Hollywood e muitos filmes de excelente qualidade técnica e de conteúdo, mesmo estrangeiros, ficam pouquíssimo tempo em cartaz por exigirem um Q.I. de dois dígitos. Inclusive os filmes mais alardeados mundialmente estão proibidos de permanecer muito tempo nas telas – ora, temos que lançar em DVD e vídeo o quanto antes!

Nunca fiz nada em cinema seriamente, mas também sou um anônimo do mundo da comunicação. É um espaço difícil para ser conquistado por nós, terceiro-mundistas. Nem Fernanda Montenegro, a brasileira que chegou mais perto de um Oscar, tem foto no mais completo site de cinema, o IMDb. Até o Eduardo chegar deve levar tempo... mas a sobrevivência dos festivais, que já vi seriamente ameaçada na época em que eu estudava Jornalismo, e conquistas como a de tantas equipes de heróis como a de “Sem Ana” mostram que ainda existe espaço.

2 comentários:

Anônimo disse...

Realmente, Renato, essas coisas são revoltantes para nós, meros "amantes" de cinema.
Valoriza-se os filmes de nome e "renome", cheios de efeitos especiais, "atores" bonitos, "atrizes" de corpo escultural... E esquece-se os verdadeiros ATORES.

Sinal dos tempos. Futilidades a mil.
Raciocínio e arte, abaixo de zero.
Triste retrato da cultura mundial...


http://mebaraki.multiply.com/

Anônimo disse...

Sim, provavelmente por isso e