10.12.05

Bom e velho Macca


Gostei muito do mais recente disco de Paul McCartney. Basta penetrar no aparente “caos” de cortinas nas janelas e roupas no varal que se encontra ali, violão em punho, o mesmo talento criador que, à época em que foi tirada a foto p&b da capa, estava se iniciando em um grupo chamado The Beatles.

Com tantos altos e baixos em sua carreira solo, provavelmente McCartney tenha obtido em “Chaos and creation in the backyard” seu maior triunfo desde “Tug of war”, de 1982. Comparando “Chaos...” com os dois trabalhos anteriores, Paul fez um disco mais soturno e musicalmente elaborado que “Flaming pie”, de 1997, e não tão ruidoso e experimental quanto “Driving rain”, de 2001. Nas treze faixas, Macca obteve uma surpreendente unidade, caprichando tanto nas melodias quanto nos arranjos, baseados principalmente em violão, piano, percussão e cordas.

“Chaos and creation” parece consagrar uma fase amargurada e “cinzenta” na carreira de Paul, iniciada com “Driving rain”, mas com muito mais sobriedade, intimismo e ponderação. Há espaço para Paul contar mais uma de suas “historinhas”, como em “Jenny Wren”, uma faixa que, pela sonoridade e simplicidade, poderia ter saído do “Álbum branco” dos Beatles – e também para uma agradável balada sobre confiança, amor e amizade, em “Follow me”. Mas McCartney deixa transparecer o amargor em canções cínicas como “Riding to Vanity Fair”, sobre falsidade, e a aparentemente alegre “Friends to go”, sobre situações indesejáveis.

Estaria o ex-beatle voltando às origens? Só se a fotografia da capa, tirada em 1962, servir de metáfora para um retorno à genialidade do compositor àquela época. Porque, mesmo permanecendo fiel ao seu estilo, Paul McCartney consegue ainda, encaminhando-se já aos 64 anos, como ele cantava naquela longínqua faixa de “Sgt. Peppers”, mostrar maturidade e inovar em suas criações. Bom e velho Macca... Velho?

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