5.12.05

Crer ou não crer

Quase por acaso, caiu em minhas mãos uma compilação de cartas e outros textos escritos pela pintora mexicana Frida Kahlo. Lendo um deles, detive-me em uma frase representando uma opinião do marido de Frida, o também pintor Diego Rivera: “Quando a dúvida termina, começa a estupidez”. Quase caí na tentação de perguntar se não seria estúpido quem tem certeza absoluta da verdade da frase, mas essa armadilha não funcionou após uma segunda análise.

O problema, na realidade, é acreditarmos piamente em tudo que nos é dito e ficarmos acomodados, como se não nos dissesse respeito ou não houvesse alternativa de pensamento ou atitude. É um vício cultural que não é exclusividade terceiro-mundista, mas é nossa parte do mundo que mais sofre com ela. E tudo começa na escola. Se inclusive as “verdades” da física são relativas, válidas apenas para ambientes “ideais” – e, por isso mesmo, inexistentes –, o que dizer daquele ensino fragmentado e insípido de literatura, história e geografia que os governos militares tão gentilmente nos deram?

Já na universidade, uma das máximas determinava que o jornalista precisa “desconfiar de tudo”. Muito bem, as coisas começam a melhorar. Mas quem permite que desconfiemos das notícias chapa-branca que até o atual governo, dito dos trabalhadores, manda publicar? Nós, jornalistas, estúpidos ou não, contribuímos para a disseminação e perpetuação da estupidez, pois reforçamos que o que fulano ou beltrano disseram era verdade. Assim manda o bolso no final do mês.

E a submissão total às “verdades” campeia nas mais diversas áreas – moda, comércio, publicidade, política, religião, literatura, artes (que o dissessem Frida e Diego, se vivos fossem!)... Pensando bem: todas as grandes descobertas e invenções surgiram de alguma dúvida, alguma inconformidade. Se o ser humano levasse menos tempo para questionar a realidade, provavelmente já teríamos computadores séculos atrás.

Essa é uma postura dialética, ou seja, os fatos, a realidade, estão aí para serem contestados, discutidos. Por isso é que Marx foi genial: mesmo que ele tenha ficado à margem, graças às grandes “verdades” da Guerra Fria e do fim da União Soviética, e que os proletários de todos os países não tenham se unido, a luta de classes – da qual a luta de idéias é uma manifestação – sempre existirá. Quem contestar a verdade da frase que abriu esta crônica nada mais fará que estabelecer também uma dialética e, com ela, uma luta de idéias, o que é sempre positivo.

Por sinal, não seja estúpido: não acredite piamente em tudo o que escrevi.

Um comentário:

Anônimo disse...

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